“A androgenia é um conceito abrangente, mas pode ser traduzido da seguinte forma: é unissex. Na moda a androgenia caracteriza um estilo, um look que pode tanto ser usado por homens como por mulheres.”
Desde Coco Chanel ao smoking de YSL a moda brinca na troca de papéis. Mulheres usando roupas de homens e os ditos se exibindo com peças bem femininas fazem parte da história como um reflexo comportamental. Cada uma dessas manifestações teve como base mudanças culturais fortes e um desejo de mostrar quem detém o poder.
Quando Chanel ousou colocar peças masculinas e cortar as longas madeixas a mensagem era muito clara: Não sou submissa como as outras mulheres. Posso ser forte e mandar na minha vida!E durante as crises de identidade, a mulher sempre abriu mão da sua condição para se colocar no lugar dos homens através da roupa.
Depois da fogueira dos soutiens, elas adotaram nos anos 80 e 90 cortes retos e sem curvas para mostrarem sua competência e, de certa forma, esconder a sua feminilidade e se misturar no mundo masculino de ternos e gravatas. Tudo isso teve aparato em Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, que entrava em cena e no clássico smoking feminino de YSL, que consolidou a androgenia nas passarelas.
Com o início do novo século, o papel da mulher e do homem se confunde. Ela trabalha e mantém a casa, enquanto que ele toma conta dos filhos e tem permissão para chorar. A moda começa a refletir essa ambiguidade de papéis e tanto o homem quanto a mulher podem começar a relaxar. Se elas buscam a calça boy friend apenas por ser confortável, o homem abandona os ternos e roupas mais masculinas por não precisa tanto se impor. Com os deveres e direitos deles mais frouxos, as roupas seguem a mesma linha e se descontraem.
Segundo Costanza Pascolato, “a androgenia é a forma de expressarmos nossas idéias mutantes sobre o que é ser homem ou mulher". Ou seja, quando esses papéis não estão bem definidos, a moda trilha o mesmo caminho. Exemplos temos vários: Boy George, Marilyn Manson e mais atualmente, Lady Gaga mostram que, o sexo em si não precisa estar claro, o que importa é a polêmica.
Pequenas coisas me remetem a um passado não tão longínquo: Camisa cor de rosa era absoluta e exclusivamente roupa de menina. Hoje em dia, elas fazem parte de um time de futebol masculino. Brincadeiras a parte, as roupas mais coloridas e ajustadas invadiram o guarda roupas masculino e hoje reinam sem nenhum tipo de preconceito.
Chegando ao extremo, nos últimos desfiles do SPFW, parece que vimos surgir realmente um novo sexo. O modelo australiano Andrej Pejic, que realmente confunde o olhar, desfilou tanto como homem quanto como mulher. Ele resume bem o que a androgenia quer representar na atualidade, com seus traços finos e longas madeixas louras.
"Talvez tudo seja sintoma de uma geração que tem a sexualidade mais fluida, dos meninos que usam saias e das garotas de cabelos curtíssimos. Símbolos do unissex cheios de nuances que seduzem e confundem. Personalidade de quem tende a pertencer a nenhum sexo determinado. Acúmulo dos tempos que visa um futuro em que desaparece a separação entre "coisas de menino" e "coisas de menina"."
E que venham os novos tempos!